"O modo como nos movimentamos, nos deslocamos no espaço e como
desempenhamos nossas tarefas rotineiras diz muito a respeito da nossa atitude
mental e disposição na vida.”
Uma constatação interessante quando
falamos de linguagem corporal é que, ao contrário do dito popular, as
aparências não enganam. Se tivermos olhos sensíveis, poderemos observar que
realmente somos o que aparentamos ser. Nosso corpo físico, em todos os seus
aspectos, manifesta muito mais características da nossa história, emoções e
pensamentos do que podemos imaginar. O modo como nos movimentamos, nos
deslocamos no espaço e como desempenhamos nossas tarefas rotineiras diz muito a
respeito da nossa atitude mental e disposição na vida.
Nossa postura e formato corporal também trazem dados preciosos sobre a
nossa história de vida, longínqua ou recente, como comportamentos repetidos,
instaurados e cristalizados nos músculos, vísceras e pele. Endurecemos,
enrijecemos, paralisamos pulsações, respiramos menos para abrandar as sensações
desagradáveis e para sentir menos o que é insuportável em determinadas fases de
nossas vidas. Às vezes, ou ao mesmo tempo, podemos "aumentar" algumas
áreas do nosso corpo, nos fazer maiores, ou mais "moles" e permeáveis
se isso trouxer alguma vantagem nos vínculos e relações em determinado momento.
MUDANÇAS NA VIDA, MUDANÇAS NO CORPO
É comum observarmos como alguém pode mudar seu corpo quando faz uma
mudança na vida: se separa, casa, arranja um novo trabalho, está feliz ou
insatisfeito. Numa relação onde um dos parceiros tem um caráter dominante e
invasivo sobre a outra pessoa, este último para "sobreviver" no
relacionamento e não ser abandonado pode construir um corpo pouco tonificado,
permeável e que oferece quase nenhuma resistência a forças externas. Muitas
vezes o medo de ser abandonado é muito maior do que o desejo de buscar relações
verdadeiramente satisfatórias, e o corpo é moldado e construído de acordo com o
que vivemos.
O que exatamente está armazenado e configurado nessas posturas pode vir
à tona quando nos dispomos a entrar em contato com elas, seja numa
psicoterapia, ou em qualquer trabalho corporal. É fascinante descobrir que
forma e comportamento são a mesma coisa. Mas independente disso, observar nosso
corpo e os das pessoas ao nosso redor é um exercício muito interessante de
autoconhecimento. Vale lembrar que esta observação não deve ser feita com um
olhar estético, de julgamento, se estamos ou não dentro dos padrões da moda e
das revistas, e sim de uma maneira curiosa a respeito do quanto podemos
descobrir através dos desejos e medos não integrados em nossa consciência, que
se manifestam em nossos corpos físicos. Ou seja, o corpo e sua forma denunciam
nosso inconsciente, tudo o que não "sabemos" sobre nós ou não
queremos entrar em contato.
O QUE SEU CORPO ESTÁ DIZENDO AGORA?
Algumas atitudes são mais óbvias, como mãos e pernas inquietas, que
demonstram claramente ansiedade e agitação mental, ou ombros fechados e curvos,
em alguém que provavelmente precisa se proteger por medo, timidez ou
insegurança. Um pescoço excessivamente alongado e rígido, mostra a função de
separar o peito (sentimentos) da cabeça (intelecto), para que um não interfira
no outro. Além disso, a respiração pode dizer muito sobre nós. Percebemos
melhor as emoções, sensações e desejos que aparecem quando respiramos mais
profundamente, relaxamos o corpo e paramos para sentir e ouvir o que ele está
nos dizendo hoje.
Tente ouvir e entender o que seu corpo diz. Entre em contato com as
dores, com os desconfortos. "Ouça-os" ao invés de apenas querer se
livrar dos sintomas desagradáveis, tomando analgésicos ou relaxantes
musculares. Perceba e mergulhe na sua ansiedade, ao invés de apenas tentar
distração em algo mais gratificante. Arrisque-se a entrar em contato com os
sinais do seu corpo. Com essas atitudes de amor e coragem consigo mesmo, como
uma boa mãe que escuta o que seu filho tem a dizer, ao invés de mandá-lo ficar
quieto e não incomodar, nossas vidas se abrem para um caminho cheio de liberdade,
satisfação, saúde e respeito a si mesmo.
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